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terça-feira, 22 de março de 2011

Fukushima, mon amour.









A catástrofe que assola o Japão já contabiliza quase dez mil mortos e quinze mil desaparecidos, deixa o mundo arrepiado. Assustado e procurando uma saída para o pesadelo atômico que pode vir por aí. E não foi por falta de aviso.
Mesmo como terremoto e tsunami, fenômenos que já são comuns na mídia e nas rodas de conversas, poucos lembram o quanto foi questionada a decisão do Governo Brasileiro, à época uma ditadura militar, sobre onde seria instalada a primeira usina nuclear no País.  
Especialistas, cientistas, militantes eco-pacifistas, todos alertavam que em Angra do Reis, por razões de topografia e proximidade com o mar, seria o pior lugar possível para este tipo de recurso energético ser implantado.
Por ironia, 2011 celebra-se o centenário da descoberta de Ernest Rutherford (1871-1937) – físico neozelandês, que formulou o moderno modelo do núcleo atômico, que revolucionou a física moderna: um caroço duro e diminuto, que concentra 99,9% da massa do átomo. Isso conforme matéria publicada no jornal Folha de S.Paulo (Ilustríssima, 12.03.2011).
Nestes cem anos de convivência com a força e a energia nuclear, que para variar primeiro teve sua utilização com arma de guerra. Lembram de Hiroshima e Nagazaki em 1945? Pois é... depois os graves acidentes de Tree Mile Island (EUA, 1979) e no clima maragato contra chimango daqueles tempos a URSS não deixou por menos, cometeu sua cagada nuclear em grande estilo, Chernobyl (1986). E agora Fukushima.
Parece que o bicho terá muito ainda que aprender sobre a manipulação da força de liberação do núcleo do átomo. Que seja breve, pois de repente não será possível sequer documentar o desastre final. Sem direto a filme de a um bom filme como o de Alain Resnais.

domingo, 13 de março de 2011

A pesquisa carona e a carona do pesquisador

Às vezes, acontece cada coisa na vida de um entrevistador de mídia – o cargo que me atribuem no instituto de pesquisa onde trabalho. Neste domingo de março, daqueles escaldantes. O que faz lembrar o Senegal, onde os viventes locais reclamam do calor porto-alegrês que faz por lá.
Pois bem, por circunstâncias que não veem ao caso agora, comecei a puxar um a pé em plana RS-20, entre Gravataí e Sapucaia do Sul. No ritmo do pé na estrada lá ia eu, chapéu, algum protetor solar, mochila leve às costas rumo ao meu destino de mais um tarefa a cumprir.
Eis que senão quando, um senhor para o carro, e me chama de um jeito de quem insiste em falar comigo. “Tu tá indo pra Sapucaia”?  Um Corcel II, ele de motorista e uma família completa abordo. Não entendi, pensei que fosse alguém querendo alguma informação. De repente me oferecem carona pelo menos até o viaduto, ponto de cruzamento da RS-20 com a RS-118, de onde poderia pegar o ônibus para seguir adiante.
Uma carona, assim de graça – não é pleonasmo – é que uma das filhas da família me reconheceu do ônibus que peguei para ir de Porto Alegre a Gravataí, quando tentava me informar sobre o jeito de ir até Sapucaia. A guria me reconheceu no meio do caminho, sob abrasante sol, e teve um gesto solidário e toda a família se comprimiu mais um tanto para me levar até o pondo desejado. Solidariedade que se vê muito pouco nestes tempos de boliche automobilístico; disputa-se para conseguir derrubar o maior número de ciclistas.
Uma carona nesta hora? A última carona que tive, foi do tipo que inclui uma pesquisa dentro de outra em andamento. Na verdade foi mais um bode fedorento que as chefias enfiam na sala de visita da nossa disposição em trabalhar, depois tiram o tal bode e agente continua ralando sob o sol.
Foi coisa de filme de estrada. Uma trilha sonora? Que tal Neil Young, de Comes A Time, Nei Lisboa, de Relógios do Sol.   

quinta-feira, 10 de março de 2011

Encerro a trilogia Contos de propósito

Marquise




O coração do credor/ Bate no peito do devedor/ A dívida sempre por um fio/ Hepatite, cirrose ou isquemia/ Outro cheque frio, virou mania/ No preito do credor, um só alvo/ Que o devedor seja salvo! Meu amigo inventou essa oração “em devoção a São Naziazeno, protetor dos que devem na praça”, justificava sorrindo.


Publicitário com veleidades de um escritor falido, já teve muito e desperdiçou tudo. Perdeu o emprego, um apartamento e, por último, a mulher. Seu mal foi a birita, “arrimo da minha decaída”, na vida ele sempre brincou com as palavras.

Era uma sexta-feira, quase quatro e meia da tarde e ele ainda não tinha almoçado. Ficou sabendo que o Fagundes, um antigo chefe que o detestava, estava na fila de transplante de fígado. “Em pensei; vou até o banco de sangue e faturo um lanchinho depois”, contou. “Não contava com isto, na hora da entrevista, tive que dizer que andava tomando uns antibióticos”. Era para segurar uma inflamação na próstata. “Coisas da idade”, desfazia.

Ele saiu meio sem jeito e sem o sanduíche com suco. Já não tinha nem para o ônibus. Há muito tempo que andava a pé pela cidade. Começava a cair uma chuva fina e fria. Ele, que estava precisando de um banho, filou um cigarro e partiu. Procurava um abrigo ao subir a Rua da Ladeira. Foi a última vez que o vi.

terça-feira, 1 de março de 2011

zé weis.com

zé weis.com

Ciclistas do mundo, uni-vos!



A chamada “Primavera Árabe” é mais uma da mídia que não sabe lidar com o novo sem rotular de velho. O que sopra no Norte da África rebate em Porto Alegre. Vivemos o “Verão das Bicicletas”. Algo que lembra a arte do encarte do CD Cena Beatnik, do Nei Lisboa, só pra ficar no clima.

Até parece que uma globalização do bem está no ar. A resistência democrática com equilíbrio, leveza e velocidade, princípios dominados por qualquer ciclista.

Em tempos de intolerância e tiranias em declínio, via as redes sociais que mobilizam multidões, há uma espécie de renascimento da esperança.

Mais bicicletas, menos automóveis. Algo além do que uma equação, a eco-soulução ao alcance de muitos.

Do pé na bunda em Mubarak às pedaladas cidadãs, parece que o ano de 2011, em meio a tantas tragédias ambientais, busca uma reação. Afinal, como o Brasil começa a funcionar só depois do Carnaval, há uma revolução até no calendário das iniciativas.