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domingo, 5 de dezembro de 2010

John Noel Winston de Medeiros Lennon Rosa; semelhanças

Há cem anos nasceu Noel, há 30, Lennon morreu.

Por José Weis

Nos primeiros dias de dezembro, efemérides sobre dois gênios da historia da música popular do século XX se entrecruzam. Ambos têm proximidades em suas trajetórias que vão além da arte que os fez celebres.
Os dois eram filhos de classe média, ”que não seja requentada”, emendaria Noel. E John, apreciaria o trocadilho? Ambos nasceram em cidades portuárias e sob situações belicosas. Noel nos dias posteriores à Revolta da Chibata. John nasceu durante a Segunda Guerra, quando a Inglaterra sofria pesados bombardeios da força aérea de Hitler. Era o dia 9 de outubro de 1940.
Os dois tinham consciência de sua classe social, bastante talento, senso de humor e deixaram canções que ultrapassaram seu próprio tempo. Essas, mais do que modernas, são eternas: Conversa de botequim, Palpite infeliz e Três apitos, de Noel; Imagine, Give peace a chance e Working class hero, de John, são exemplos disso. Claro, cada qual no seu quadrado.
Também foram dois artistas que souberam fazer uso da mídia de suas respectivas épocas. Ambos gostavam de mulheres, de desenhar e de alguma birita. Ambos morrem jovens, Noel, aos 26 anos, de tuberculose, no dia 4 de maio de 1937. Como outros talentos de seu tempo, ele viveu e morreu na prontidão. Deixou uma viúva, Lindaura, com quem se casou “na polícia” com se falava à época.
John, aos 40 anos, morto à bala, no dia 8 de dezembro de 1980. Foram embora muito sedo pelo que deixaram na sua breve passagem. Cada um deixou o seu legado ao Brasil e ao Mundo.
Noel morreu na casa em que nasceu no bairro da Vila Isabel, cidade do Rio de Janeiro. Não deixou herdeiros. John nasceu em Liverpool e foi assassinado em Nova York, onde vivia como cidadão do mundo e rico. Casou-se duas vezes, deixou dois filhos e uma viúva, Yoko Ono.
Noel veio ao mundo no dia 11 de dezembro de 1910. A então capital da República havia passado recentemente por momentos de tensão, sob ameaça de bombardeio. Não fosse o bom senso de João Cândido, líder da Revolta da Chibata, talvez houvesse a morte de muitos cidadãos cariocas inocentes em meio aquele conflito. Seu nome foi lhe dado em alusão à proximidade do Natal, Noël, em francês.
Qualquer semelhança com dias de hoje não é, nem de longe, uma coincidência, diga-se. O fato é que dona Martha já estava nos últimos dias de sua gravidez, e no mínimo apreensiva com o que poderia acontecer a ela e seu filho. Infelizmente coração de mãe se engana, o parto foi difícil e o bebê nasceu sob fórceps. O médio não evitou que o queixo do recém nascido sofresse fratura e afundamento do maxilar. Essa marca na cara, o autor de Com que roupa? levaria pelo resto da sua vida.
John Lennon é universal, sua canção, Imagine, ou o seu credo às avessas, God, são tão geniais que - mesmo traduzidas em qualquer idioma, funcionam. Noel Rosa é gema pura, único. Ou alguém pode pensar em Um gago apaixonado, cantado em inglês? Acho – acho nada, quem acha vive se perdendo, é Noel quem me cutuca. Penso! Que nem mesmo Frank Sinatra conseguiria. Como o próprio Noel avisou: Não tem tradução.

1 comentários:

Ari Teixeira disse...

Belo texto.

Tô lendo, comovido, somente agora. Parabéns Zé! Um abraço deste teu amigo de longa data.

E um baita 2011 pra ti!

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