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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Adeus, adiós. good-bye


A todas as musas, minha despedida em rede.

Não me digam que não avisei.
Eu vazei.
Digo adeus à precisão poética.
Retiro meu fogoso equino
desta precipitação pluviátil.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A volta do que não foi em 300 palavras e três imagens


Memória



Hoje faz, ou já fez a esta hora, 66 anos que explodiu uma bomba atômica em Nagasaki, mais de uma centena e meia de milhares de mortos, feridos e sequelados que passaram a morrer todo este tempo. Foi a segunda Bomba lançada pelos Estados Unidos em três dias, a primeira foi em Hiroshima. Para não esquecer com quem se está lidando, e o “mundo apreensivo com a crise norte-americana”...  


Londres em chamas?  Ah, chama o som na caixa!



PANIC ON STREET OF LONDON/ PANIC OF STREET OF BIRMINGHAM...
Pode ser The Smiths ou The Clash, que até prefiro. A Inglaterra e a toda a Zona do Euro treme na base, jovens indignados, sem futuro. Alguém se lembra do Sex Pistols? Pois é, a barbárie no século XXI retoma seu lugar junto a civilização, eu bem que avisei.

Pra não dizer que não falei de Cortázar


Há exatas seis décadas, em 1951 saía a primeira edição de uma das obras primas do conto latino-americano, Bestiário, de Julio Cortázar. Como escreveu Sérgio Karam, músico (sax-alto) de Arthur de faria e seu conjunto, “tudo o que eu queria era uma desculpa para falar de Cortázar”. Pois bem, que assim seja.
Poder-se-ia começar pela publicação deste livro, Bestiário, contém oito contos de alguém que disse a que veio, o autor, neste mês de agosto completaria 97 anos de vida. Outra efeméride, em 1981, portanto há 30 anos, Cortázar receberia a cidadania francesa. À época, a Argentina sobrevivia a uma das mais sangrentas e implacáveis ditaduras que o país já teve em sua história.
A revista Piauí de julho 2011 apresenta entre outras tantas matérias, uma sobre a correspondência de Julio Cortázar com amigos e parceiros que ficaram na Argentina depois que este passou a morar em Paris junto com sua primeira mulher, Aurora.



domingo, 15 de maio de 2011

Estripulias enquanto eu andava fora do ar

Com ou sem depressão, não dá nem pra pedir pra sair. Senão vejam: Grêmio, Internacional, Fluminense e Cruzeiro, os quatro eliminados na Taça Libertadores numa mesma noite, beatificaram o Papa Polonês, (re) fundaram o PSD, Bin Laden foi executado, o alcaide da capital gaúcha não fala de outra coisa que não seja a Copa do Mundo de 2014, Sábato morreu às vésperas dos cem anos e, ainda por cima, a Sandy não quer mais saber de sua imagem como boa moça. Neste domingo, perdi, com meu time, um campeonato gaúcho disputado nos pênaltis. Assim não dá!
“Eu voltei!
Agora prá ficar
Porque aqui!
Aqui é meu lugar
Eu voltei pr'as coisas
Que eu deixei”
Longa vida ao Rei Roberto.

terça-feira, 22 de março de 2011

Fukushima, mon amour.









A catástrofe que assola o Japão já contabiliza quase dez mil mortos e quinze mil desaparecidos, deixa o mundo arrepiado. Assustado e procurando uma saída para o pesadelo atômico que pode vir por aí. E não foi por falta de aviso.
Mesmo como terremoto e tsunami, fenômenos que já são comuns na mídia e nas rodas de conversas, poucos lembram o quanto foi questionada a decisão do Governo Brasileiro, à época uma ditadura militar, sobre onde seria instalada a primeira usina nuclear no País.  
Especialistas, cientistas, militantes eco-pacifistas, todos alertavam que em Angra do Reis, por razões de topografia e proximidade com o mar, seria o pior lugar possível para este tipo de recurso energético ser implantado.
Por ironia, 2011 celebra-se o centenário da descoberta de Ernest Rutherford (1871-1937) – físico neozelandês, que formulou o moderno modelo do núcleo atômico, que revolucionou a física moderna: um caroço duro e diminuto, que concentra 99,9% da massa do átomo. Isso conforme matéria publicada no jornal Folha de S.Paulo (Ilustríssima, 12.03.2011).
Nestes cem anos de convivência com a força e a energia nuclear, que para variar primeiro teve sua utilização com arma de guerra. Lembram de Hiroshima e Nagazaki em 1945? Pois é... depois os graves acidentes de Tree Mile Island (EUA, 1979) e no clima maragato contra chimango daqueles tempos a URSS não deixou por menos, cometeu sua cagada nuclear em grande estilo, Chernobyl (1986). E agora Fukushima.
Parece que o bicho terá muito ainda que aprender sobre a manipulação da força de liberação do núcleo do átomo. Que seja breve, pois de repente não será possível sequer documentar o desastre final. Sem direto a filme de a um bom filme como o de Alain Resnais.

domingo, 13 de março de 2011

A pesquisa carona e a carona do pesquisador

Às vezes, acontece cada coisa na vida de um entrevistador de mídia – o cargo que me atribuem no instituto de pesquisa onde trabalho. Neste domingo de março, daqueles escaldantes. O que faz lembrar o Senegal, onde os viventes locais reclamam do calor porto-alegrês que faz por lá.
Pois bem, por circunstâncias que não veem ao caso agora, comecei a puxar um a pé em plana RS-20, entre Gravataí e Sapucaia do Sul. No ritmo do pé na estrada lá ia eu, chapéu, algum protetor solar, mochila leve às costas rumo ao meu destino de mais um tarefa a cumprir.
Eis que senão quando, um senhor para o carro, e me chama de um jeito de quem insiste em falar comigo. “Tu tá indo pra Sapucaia”?  Um Corcel II, ele de motorista e uma família completa abordo. Não entendi, pensei que fosse alguém querendo alguma informação. De repente me oferecem carona pelo menos até o viaduto, ponto de cruzamento da RS-20 com a RS-118, de onde poderia pegar o ônibus para seguir adiante.
Uma carona, assim de graça – não é pleonasmo – é que uma das filhas da família me reconheceu do ônibus que peguei para ir de Porto Alegre a Gravataí, quando tentava me informar sobre o jeito de ir até Sapucaia. A guria me reconheceu no meio do caminho, sob abrasante sol, e teve um gesto solidário e toda a família se comprimiu mais um tanto para me levar até o pondo desejado. Solidariedade que se vê muito pouco nestes tempos de boliche automobilístico; disputa-se para conseguir derrubar o maior número de ciclistas.
Uma carona nesta hora? A última carona que tive, foi do tipo que inclui uma pesquisa dentro de outra em andamento. Na verdade foi mais um bode fedorento que as chefias enfiam na sala de visita da nossa disposição em trabalhar, depois tiram o tal bode e agente continua ralando sob o sol.
Foi coisa de filme de estrada. Uma trilha sonora? Que tal Neil Young, de Comes A Time, Nei Lisboa, de Relógios do Sol.   

quinta-feira, 10 de março de 2011

Encerro a trilogia Contos de propósito

Marquise




O coração do credor/ Bate no peito do devedor/ A dívida sempre por um fio/ Hepatite, cirrose ou isquemia/ Outro cheque frio, virou mania/ No preito do credor, um só alvo/ Que o devedor seja salvo! Meu amigo inventou essa oração “em devoção a São Naziazeno, protetor dos que devem na praça”, justificava sorrindo.


Publicitário com veleidades de um escritor falido, já teve muito e desperdiçou tudo. Perdeu o emprego, um apartamento e, por último, a mulher. Seu mal foi a birita, “arrimo da minha decaída”, na vida ele sempre brincou com as palavras.

Era uma sexta-feira, quase quatro e meia da tarde e ele ainda não tinha almoçado. Ficou sabendo que o Fagundes, um antigo chefe que o detestava, estava na fila de transplante de fígado. “Em pensei; vou até o banco de sangue e faturo um lanchinho depois”, contou. “Não contava com isto, na hora da entrevista, tive que dizer que andava tomando uns antibióticos”. Era para segurar uma inflamação na próstata. “Coisas da idade”, desfazia.

Ele saiu meio sem jeito e sem o sanduíche com suco. Já não tinha nem para o ônibus. Há muito tempo que andava a pé pela cidade. Começava a cair uma chuva fina e fria. Ele, que estava precisando de um banho, filou um cigarro e partiu. Procurava um abrigo ao subir a Rua da Ladeira. Foi a última vez que o vi.

terça-feira, 1 de março de 2011

zé weis.com

zé weis.com

Ciclistas do mundo, uni-vos!



A chamada “Primavera Árabe” é mais uma da mídia que não sabe lidar com o novo sem rotular de velho. O que sopra no Norte da África rebate em Porto Alegre. Vivemos o “Verão das Bicicletas”. Algo que lembra a arte do encarte do CD Cena Beatnik, do Nei Lisboa, só pra ficar no clima.

Até parece que uma globalização do bem está no ar. A resistência democrática com equilíbrio, leveza e velocidade, princípios dominados por qualquer ciclista.

Em tempos de intolerância e tiranias em declínio, via as redes sociais que mobilizam multidões, há uma espécie de renascimento da esperança.

Mais bicicletas, menos automóveis. Algo além do que uma equação, a eco-soulução ao alcance de muitos.

Do pé na bunda em Mubarak às pedaladas cidadãs, parece que o ano de 2011, em meio a tantas tragédias ambientais, busca uma reação. Afinal, como o Brasil começa a funcionar só depois do Carnaval, há uma revolução até no calendário das iniciativas.


domingo, 13 de fevereiro de 2011

Os árabes, sempre eles.

Desde o Cairo, mais uma boa lição 

José Weis

 

O que está na imprensa...


...já esteve nas ruas.

Europeus em geral, especialmente Portugal e Espanha, jamais resolveram o “trauma” dos 800 anos de domínio mouro na Península Ibérica. Enquanto isso, os Estados Unidos, mesmo na era Obama, não perdeu a mania de ser o xerife do mundo. EUA de olho no desenrolar dos acontecimentos no Egito.




No Cairo, o povo foi às ruas para pedir a cabeça de Hosni Mubarak, na base: “Hosni, pede pra sair!”. Como todo “governo amigo”, enquanto servia ficava. Depois é a velha hipocrisia de plantão, as democracias do mundo passam a apoiar a queda de mais um ditador. E aproveitam para “ensinar o que é democracia”.
Porém, em tempos de WikiLeaks as aparências não enganam mais. Em artigo publicado no Brasil pelo jornal Folha de S.Paulo, caderno Ilustríssima (12/12/2010), Malcolm Gladwell afirma que “A revolução não será tuitada.Os limites do ativismo político nas redes sociais”. Mais uma vez o árabes do Egito, principalmente os jovens, demonstraram ao mundo que não é bem assim. 
Todo mundo mete o bedelho na vida dos árabes, por causa do petróleo. Até Livro das Mil e Uma Noites. O argentino Jorge Luis Borges tem um ensaio sobre as omissões puritanas de franceses, alemães e ingleses que não conseguiam assimilar a naturalidade como os contos árabes tocavam o erotismo. Mesmo assim, lembro que, quando criança, me deliciei lendo as Aventuras de Simbad, o Marujo e Ali Babá e os Quarenta Ladrões, em versões adaptadas, é claro.
A herança da cultura árabe é rica em todos os sentidos. Aliás, por isso eu também teria algo contra  eles, rodei em Matemática na primeira série do Ginásio. Lembro que me fizeram ler O Homem que Calculava, de Malba Tahan. Outra vez os árabes.
A propósito, neste domingo exemplo, italianos – em especial as mulheres - foram às ruas, começou: “Berlusconi, pode esperar, a tua hora vai chegar!” Os árabes continuam a ensinar o mundo. 

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Maria Schneider




Em 4 de fevereiro de 2011, Renato Lemos Dalto, amigo e jornalista,escreveu:
Maria Schneider
Ela será sempre a referência de uma beleza rebelde, desafiadora das convenções estéticas e morais. O
cabelo desgrenhado, o olhar perdido, o doce sotaque
francês, aquele tango e aquele non sense da vida. Dizia
que Marlon Brando era um “anjo gelado”, mas com ele
protagonizou alguns momentos que glorificam o cinema e a
vida em “O Ultimo Tango em Paris”, obra-prima de
Bertolucci.
       Depois dela, nossas musas deixaram de lado a estética publicitária e valeram mais pelo sentido outsider que imprimiam a si mesmas. Foi o doce anjo feminino de nossos anos rebeldes, mas depois dela também nosso olhar para o feminino mudou muito. Ah, a tentadora beleza das almas perdidas...
       A vida se apagou ontem dos olhos negros de Maria Schneider. Tinha 58 anos, mas será sempre a menina de 19 anos na nossa lembrança, a personagem que amou um homem sem ao menos saber seu nome, a que enfim colheu amor em meio ao
desespero e à náusea existencial e iluminou com seu
olhar uma Paris cinza e sem graça. O estendido solo de um sax, as caminhadas, aquela dança no salão, os cabelos encaracolados dela estarão sempre na nossa lembrança e vivos no cinema. Pura poesia de uma mulher que vestiu a beleza com o mais sedutor sentido da melancolia.





Zé Weis, em 4 de fevereiro, à noite, respondeu:
Sinto até que alguma coisa de nós morreu com Maria Schneider. Talvez o encanto, a sedução por viver um amor ao vivo, incondicional. Algo desesperado e belo a um só tempo e lugar. Dois corpos entrelaçados de tesão e egoísmo. Quem perdeu o Último Tango dançou?

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

2012 TÁ CHEGANDO!





José Weis
Horror, tragédia ou catástrofe, difícil fica de definir tudo o que aconteceu na região serrana do Rio de Janeiro, na segunda semana do ano. Quase mil mortos, oficialmente, mas há estimativas bem acima disso. Cidades destruídas e as economias dos municípios totalmente comprometidas.
E tudo isso poderia ser evitado se houvesse previsão e atitudes. Na verdade, foi muito mais do mesmo. Outra vez são lamentadas expiadas tantas mortes e destruição, quando nada foi feito antes. Mais que a banalização da violência, vivemos tempos de banalização da morte. Nem mesmo mais de mil mortos, nem as piores nevascas dos últimos tempos no hemisfério norte, chegou a
nevar nos picos elevados da Austrália, em pleno verão no hemisfério sul. Até o fato da água do mar estar engolindo o litoral do Ceará, nada causa impacto, nem move e muito menos comove as chamadas autoridades. A natureza emite seus alarmas, parece que ninguém se importa com isso.
Para a mídia, duas imagens certamente farão parte das retrospectivas, ao do cãozinho que ficou famoso por engano, ao lado de uma cova recém coberta. E a da mulher sendo puxada por uma corda, ela deixa cair um cachorro na correnteza...  
Outro dia, numa matéria que eu fazia para o Diário de Canoas sobre o embarque de remédios, roupas e alimentos aos atingidos pelas chuvas no Rio de Janeiro. Era um avião Hércules, da FAB, o chefe da tripulação, tenente coronel Luis Cosme, relatava sobre o que vivenciou lá na região. Ele disse que muitos dos mortos talvez jamais sejam encontrados, seus corpos foram dilacerados nas enxurradas que carregavam e rolavam pedras, árvores e automóveis, “pareciam de papel”. E encerrou o papo com um alerta; “a natureza está batendo na porta. E 2012 já tá chegando”.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Da trilogia Contos de propósito: Porre seco


 Porre seco

Tenho 49 anos, me faltam dentes e cabelos, mas moro no apartamento que é meu, paguei caro por ele. Para quitar a última parcela tive que vender minha biblioteca. Vivo só, sempre mal de grana, pago minhas contas. Já bebi muito nesta vida, agora bebo apenas vinho tinto do bom, que por ser mais caro regula o trago.
E, aos 49 anos, tenho uma fissura. Quero saber quem era a pessoa,
o leitor ou a leitora do livro que mais gostei nos últimos tempos, La Tregua, de Mario Benedetti.
Como já disse antes, minha biblioteca, que tive que vender era basicamente de livros de grandes contistas. Tinha quase todos os mestres do gênero. Cortázar, Machado de Assis, Horácio Quiroga,
 Tchekov, Edgar Allan Poe, Rubem Fonseca, Onetti, Lima Barreto, Borges e Kafka, entre outros pelés do ofício de contista.
Tinha esses todos por ordem. Era fácil localizar qualquer volume, às cegas eu encontrava. Eu era um Jorge Luis Borges em meio a um montão de livros. Sei que vivo muito bem sozinho e bebo um pouco de vinho... Acho que já falei isso. Tive que me desfazer dos livros para ter sossego e para morar e onde cair morto.
Só quero saber que leu La tregua antes de mim, esta edição aqui.  Nem eu mesmo sei lá muito bem o que significa esta gana de conhecer alguém por uma coisa tão em comum.
Uma coisa que me preocupa de fato é o estoque pó de café, que está acabando e também o vinho tinto.
Vai ver que é por isso que às vezes sinto como se eu fosse aquele personagem de A Construção, do conto de Franz Kafka. De alguns contos a gente jamais vai se livrar. 
Eu lembro que no dia em que comprei o livro fazia frio e que chovia. Era a véspera de completar meus 49 anos. Num final de tarde, resolvi me abrigar entrando em um dos muitos sebos que ficam no velho centro da cidade. Enquanto me sacudia da chuva feito um cachorro procurava algo para ler. Era a força do hábito, percorri com olhos e dedos a sessão de autores estrangeiros, escolhi um de Mario Benedetti. Peguei, gostei da capa, da taça de café vazia, o tom sépia da foto. A primeira frase: Sólo me faltan seis meses y veintiocho dias para estar en condiciones de jubilarme. Para mim faltam quinze anos e meio.
Me identifiquei de cara, tinha quase a mesma idade do personagem que narra a história do livro, 49 anos. Trabalho numa biblioteca de um curso de Letras, faculdade particular. A grana é pouca, mas o trabalho de funcionário também não é muito puxado.
Em casa, uma xícara de café sempre à mão - tomo muito café desde que deixei de beber, recomecei a ler. Descobri que a pessoa que o lera anteriormente assinalou palavras e expressões do autor, traduzindo algumas destas em letra miúda e delicada. Às vezes parecendo que escreveu em movimento, quem sabe enquanto lia dentro de algum ônibus. Era o caso de empalagosa, ao lado estava escrito, em caneta esferográfica, tinha outras escritas a lápis; a palavra enjoativa.
Na página de rosto a mesma letra, à caneta tinteiro, assina penas com as iniciais L.A. e uma data: Montevideo, julio de 2005.
Aos poucos fui me interessando cada vez mais pela tal pessoa, a leitora, leitor, sei lá.  Cheguei a ponto de confundir meu interesse com a aproximação entre Martín e Laura, da história que li.
De repente me vem uma vontade de descobrir tudo sobre L.A. quem é esta pessoa?  Por sinal, L.A. são as mesmas iniciais de Laura Avellaneda, a mocinha, trágica heroína da novela de Benedetti.
Às vezes, quando me vejo às voltas com minhas invenções e implicâncias, me sinto muito mais velho do que um cara que recém completou 49 anos. Que Benedetti que nada, estou mais para Juan Carlos Onetti, pelos contos de solidão regados a vinho tinto.
Tenho essa fissura por descobrir quem leu La Tregua antes de mim. Ao ler Benedetti me lembro de Onetti. É o meu fascínio pela cidade de Montevidéu.
Já estive duas vezes naquela cidade e tenho o desejo e voltar lá. Uma vez no verão, mas essa não vale. Foi em férias com a família, eu era um pré-adolescente, só lembro que gostei muita da cidade. Depois foi bem mais tarde, era inverno, foi com uma namorada, passamos um feriado. Fazia muito frio e me lembro muito pouco porque passei a maior parte do tempo bêbado. Hoje já não bebo tanto. Por isso mesmo é que me sinto intrigado e quero saber mais sobre quem seria a pessoa. Até parece que não tenho porra nenhuma para me ocupar.
Desejo volver a Montevidéu, mas desta vez será sóbrio. Quem sabe encontraria L.A. por lá? Será que alguém do Uruguai, ou seria um caixeiro-viajante argentino que se hospedou por lá? Talvez um turista.
Mas por que me apressar? O tal Martin conheceu sua Avellaneda na página 17, capítulo Miércoles 27 de febrero e só se revelou enamorado lá pela página 64, Viernes 17 de mayo.
Preciso aprender a controlar ansiedades. Quero sair em busca de  L.A. que leu o livro Benedetti antes de mim. 
Estou à beira dos 50 anos, devo me preparar bem para viver a segunda metade de século de minha vida. Quem sabe em Montevidéu, quem sabe ao lado de L.A. Quem será? O que faz para viver? O que faz da sua vida?
Daí então a minha Montevidéu ficará na medida para um vinho tinto, sem a melancolia solitária que me persegue.  Algo como fosse algum personagem de um conto de Onetti.