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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Que venha o tal de 2011

Perto do fim,
do outro lado da Terra
2010 já era
o tempo é uma dança
morre mais um ano
nasce outra esperança.

Bravo, belo e útil 2011 para todos nós.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

À guisa de um pósfácio

Penso que cabe redigir um pósfácio neste momento. Um pósfácio sobre o último texto que foi postado neste blog (12-12), “A bicicleta”. Essa narrativa tem me enchido a cabeça há mais ou menos um 16 anos. E é, com se costuma relatar nestas ocasiões, baseada em fatos reais, se verdadeira era a notícia que a originou.
Em 1994 trabalhava de editor de Internacional num jornal de Blumenau (SC), acho era um sábado pela manhã, ao preparar a edição de domingo, nos chega uma matéria da agência ANSA, procedente de Varsóvia (Polônia) dava conta desta história, tenho até hoje uma printer deste material, a versão era em espanhol. Não foi publicada na edição daquele domingo no Jornal de Santa Catarina.
Levei uns dez anos para escrever e quase outro tanto pra publicar pela primeira vez. (J.W.)
P.S. – Tal como escreveu Mario Quintana em O Anjo Malaquias, “... então, pra disfarçar, a gente faz literatura”... procurem toques sobre literatos e literatura que foram espraiados ao longo do bosque, digo do texto.

domingo, 12 de dezembro de 2010

A bicicleta

Este conto também é uma homenagem a 12 de dezembro, DIDA – Dia Internacional dos Direitos Animais. Mais informações em WWW.lugardeanimal.com

A bicicleta

Consagro ao mestre do ofício,
Tchecov, autor de contos sobre bichos.
I
Naquela manhã, após uma noite de sonhos ruins, Teodor Korzeniowski acordou pensando em como seria se fosse um urso. Era a primeira vez que lhe ocorria tal idéia. Desde muito jovem, Teodor desejou viver no mar, começou como marinheiro mercante e acabou fazendo navios para que outros navegassem. Aquele armador alemão de origem polonesa sabia que teria uma experiência e tanto pela frente. Korzeniowski esperava há muito por isto, seria o seu dia de caçador. Entediado com o sucesso de seus empreendimentos, decidiu que se arriscaria em alguma coisa diferente. Descobrira uma empresa polonesa, dirigida por despatriados germânicos – a Teodor agradou a coincidência - a firma Münchhausen Und Sohn era especializada em criar condições de caça, no seu habitat natural, em remotos recantos de florestas. Teodor sentiu-se seduzido, queria caçar um urso. Previdente, avaliou os equipamentos, bússola, mochila e um bom rifle, tudo germanicamente checado.
Todavia um pequeno senão poderia deixar por terra os planos do ex-homem do mar, Korzeniowski. Já não havia ursos naquela região da Europa, quanto mais para caça. Os nada escrupulosos senhores da casa Münchhausen Und Sohn não pestanejaram, arranjaram um velho urso. Dmitri, um jubilado animal que um circo russo doara à comunidade – Kindberg, um pequeno burgo próximo a um grande bosque onde aconteceria a cerimônia de caça.



II
Difícil foi para Dmitri adaptar-se à vida selvagem. Nascido no ambiente do circo, seu único contato com semelhante foi com sua mãe, a ursa Macha, que morreu cedo, ele ainda teve um irmão, Aliocha, que acabou sendo vendido para outro circo.
Dmitri só conhecia o pessoal do picadeiro, que lhe dava comida, alguma atenção e lhe cobrava em trabalho. Ele era artista, um urso que andava de bicicleta, atividade que exercia com uma grande habilidade e lhe rendia certo prestígio, em especial junto às crianças.
No primeiro dia na floresta onde iria pôr à prova seu instinto de caça, Teodor palmilhou, rastejou, encontrou excrementos que julgava ser do urso. Caçador de primeira viagem. A verdade é que, ao entardecer, julgou que era hora de preparar seu acampamento.
E foi por pouco que o homem e a fera não se encontraram. Uma apetitosa colméia atraíra Dmitri, enquanto que Teodor teve que buscar um recanto para atender um urgente chamado da natureza.
Acaso e prazo, pelo primeiro, Dmitri encontrou mel, enquanto Teodor tinha apenas dois dias para dar cabo de sua empreitada. Cai a noite sobre a floresta.

III
O alvorecer numa floresta é uma experiência a ser devida e divinamente compartilhada entre ex-ursos de circo e ex-marinheiros. Quem sempre desfruta deste instante é Josef Bruckner, campônio e músico. Um sujeito tido como um tanto rude, mas de uma comovente devoção à música. Naquele dia Bruckner teria que ir ao burgo de Kindberg a fim de comprar algumas partituras. Decidiu ir de bicicleta.
Estava o senhor Bruckner a andar de bicicleta, assobiando um tema de uma provável nova composição. Eis que não mais do que de repente, lhe aparece pela frente um urso, o susto foi enorme.
Ambos não estavam preparados para um súbito e encontro com este, de tal modo que, Josef Bruckner deixou a bicicleta e saiu em disparada. Por seu lado, Dmitri também ficou arisco, porém ao ver a bicicleta caída no chão não teve como não lembrar os velhos tempos de picadeiro.

Desconhecendo os prazeres do amor, uma vez que viveu em celibato circense, Dmitri, no entanto, não esquecera sua ursina habilidade de pedalar. Faceiro, saiu floresta a fora.
IV
Após outra noite de sonhos com tempestades marítimas e bússolas desnorteadas, Teodor Korzeniowski acordou pensando em lobos, não exatamente em algum lobo do mar; “o homem é o lobo do homem, o homem é o amigo-urso dos ursos”, justificou-se.
Teodor Korzeniowski com o rifle engatilhado e orelhas em pé, percorria o seu caminho em total solidão, exceto o crepúsculo, diria um poeta japonês.
Num aclive acentuado dá de cara com um urso descendo a ladeira, de bicicleta. Foi tal o susto que teve um mal súbito, tomba na terra o velho marinheiro. Não sem antes disparar a arma que portava.
Dmitri vinha alegre pela estrada, embriagado da nostalgia comum a todos ex-ursos de circo, chegou a ouvir os aplausos do público, em especial as crianças, e os até mesmo os acordes da banda. De súbito depara com aquele vulto. O urso nem teve tempo de reagir, caiu com bicicleta e tudo em uma vala da estrada.
De longe se ouviu um disparo e um revoar de pássaros, e novamente o silêncio.
Na manhã seguinte alguns funcionários da Münchhausen Und Sohn encontraram os dois corpos. Ambos morreram de susto recíproco.

domingo, 5 de dezembro de 2010

John Noel Winston de Medeiros Lennon Rosa; semelhanças

Há cem anos nasceu Noel, há 30, Lennon morreu.

Por José Weis

Nos primeiros dias de dezembro, efemérides sobre dois gênios da historia da música popular do século XX se entrecruzam. Ambos têm proximidades em suas trajetórias que vão além da arte que os fez celebres.
Os dois eram filhos de classe média, ”que não seja requentada”, emendaria Noel. E John, apreciaria o trocadilho? Ambos nasceram em cidades portuárias e sob situações belicosas. Noel nos dias posteriores à Revolta da Chibata. John nasceu durante a Segunda Guerra, quando a Inglaterra sofria pesados bombardeios da força aérea de Hitler. Era o dia 9 de outubro de 1940.
Os dois tinham consciência de sua classe social, bastante talento, senso de humor e deixaram canções que ultrapassaram seu próprio tempo. Essas, mais do que modernas, são eternas: Conversa de botequim, Palpite infeliz e Três apitos, de Noel; Imagine, Give peace a chance e Working class hero, de John, são exemplos disso. Claro, cada qual no seu quadrado.
Também foram dois artistas que souberam fazer uso da mídia de suas respectivas épocas. Ambos gostavam de mulheres, de desenhar e de alguma birita. Ambos morrem jovens, Noel, aos 26 anos, de tuberculose, no dia 4 de maio de 1937. Como outros talentos de seu tempo, ele viveu e morreu na prontidão. Deixou uma viúva, Lindaura, com quem se casou “na polícia” com se falava à época.
John, aos 40 anos, morto à bala, no dia 8 de dezembro de 1980. Foram embora muito sedo pelo que deixaram na sua breve passagem. Cada um deixou o seu legado ao Brasil e ao Mundo.
Noel morreu na casa em que nasceu no bairro da Vila Isabel, cidade do Rio de Janeiro. Não deixou herdeiros. John nasceu em Liverpool e foi assassinado em Nova York, onde vivia como cidadão do mundo e rico. Casou-se duas vezes, deixou dois filhos e uma viúva, Yoko Ono.
Noel veio ao mundo no dia 11 de dezembro de 1910. A então capital da República havia passado recentemente por momentos de tensão, sob ameaça de bombardeio. Não fosse o bom senso de João Cândido, líder da Revolta da Chibata, talvez houvesse a morte de muitos cidadãos cariocas inocentes em meio aquele conflito. Seu nome foi lhe dado em alusão à proximidade do Natal, Noël, em francês.
Qualquer semelhança com dias de hoje não é, nem de longe, uma coincidência, diga-se. O fato é que dona Martha já estava nos últimos dias de sua gravidez, e no mínimo apreensiva com o que poderia acontecer a ela e seu filho. Infelizmente coração de mãe se engana, o parto foi difícil e o bebê nasceu sob fórceps. O médio não evitou que o queixo do recém nascido sofresse fratura e afundamento do maxilar. Essa marca na cara, o autor de Com que roupa? levaria pelo resto da sua vida.
John Lennon é universal, sua canção, Imagine, ou o seu credo às avessas, God, são tão geniais que - mesmo traduzidas em qualquer idioma, funcionam. Noel Rosa é gema pura, único. Ou alguém pode pensar em Um gago apaixonado, cantado em inglês? Acho – acho nada, quem acha vive se perdendo, é Noel quem me cutuca. Penso! Que nem mesmo Frank Sinatra conseguiria. Como o próprio Noel avisou: Não tem tradução.