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sábado, 20 de novembro de 2010

Ave, Ira, santa Ira!



O grupo Ira! faz um retorno às origens no seu mais recente (quem sabe o último) CD, Invisível DJ. Estão mais vivos do que nunca o vigor dos riffs de guitarra, um rigor das letras entre indignação, protesto e ingenuidade. São a mistura de posturas e leituras pós-adolescentes com atitudes adultas contemporâneas. Enfim, o jeito mod do grupo paulista Ira! está de volta. Assim como a levada rock e o toque de suas baladas. Invisível DJ (Universal, 2007, R$ 30,00) é um CD enxuto.
Rebelde desde seu primeiro disco (era assim, em 1985) Mudança de Comportamento, que falava em coisas como “Ninguém precisa da guerra”, assunto que é sempre uma antiga novidade.
Após mais de duas décadas de acordes de sua guitarra indelével, Edgar Scandurra, Nasi nos vocais, ao contrabaixo, Gaspa e André Jung na bateria. Eles ainda cantam que “Você votou em mim/ Eu te decepcionei/ Você vai acreditar se eu te disser que mudei?”, em O Candidato.
Invisível DJ está carregado de releituras, que funcionam bem. A começar pelo título do CD, que faz uma alusão ao disco solo de Scandurra, Amigos Invisíveis, de 1989. Aliás, é desse vinil que se faz uma cover de Culto de Amor – parceria de Edgar e Taciana Barros. Canção que celebra; “Procuro me desarmar /Ando em busca de paz/ (...) A verdade vem no seu beijo/ Você em minhas mãos /Eu juro que não tenho medo”. 
Outra cover que caiu muito bem ao Ira é Feito Gente; “Feito gente/ Feito fase /Eu te amei como pude”, do antológico disco Revolver, de Walter Franco, lançado em 1975.
Uma caprichada apresentação gráfica de André Nassar faz uma homenagem à capa e conceitos de Ou Não, emblemático disco do mesmo Walter Franco, de 1972, um dos malditos daqueles tempos difíceis.
Nem só de reprises vive Invisível DJ, na linha que indica uma tradição do grupo, a faixa de abertura, que dá título ao mais recente trabalho do Ira, “Três ou quatro ônibus por dia /Já na rua às cinco da manhã/ Segue assim feliz a sua rotina/ Embalada ao ente ao som do Invisível DJ”, o cotidiano dos quase-excluídos da grande cidade. Com esta mesma temática há uma parceria assinada por Scandurra e Arnaldo Antunes, Saga.
Uma canção com jeito de balada country é Mariana Foi por Mar, soa algo exótico, mas a letra funciona bem; “Mariana foi pro mar/ Deixou seus bens mais valiosos como cachorro”.
Inda cabe um registro, a canção com letra em espanhol, de Edgar Scandurra, “La Luna Llena”, que também fala em caminhadas pelas ruas. São muitos os caminhos percorridos pelo Ira, mas sua trajetória é sempre na busca de um possível. Às vezes bem vindo e previsível. Por isso, para o bem, não mudou. (texto inédito, de 2007)

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