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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

GAVETA DE REPÓRTER:



Dez perguntas para Mino Carta

(Por José Weis, Porto Alegre, março de 2010, no Studio Clio.)

“O Brasil tem a pior elite do mundo”.
01- Como se pode avaliar a imprensa no Brasil de hoje?
De modo geral acho o jornalismo brasileiro, no momento, de péssima qualidade. Esta é a minha visão das coisas, é provável que eu seja um pretensioso que se arrisca a julgamentos apressados. Mas eu acho muito ruim e convido quem estiver interessado a fazer comparações a, por exemplo, confrontar os diários brasileiros ditos da grande imprensa com os grandes diários do mundo. E a diferença é chocante. E eu acho que isso não acontece por acaso, esta decadência da mídia brasileira. Ela não ocorre por um jogo malvado do destino. Ela se dá porque houve apostas erradas.
02 - Há mais de 30 anos na revista Isto É, que você editava, saía em destaque um líder metalúrgico que hoje completa seu segundo mandato como presidente da República? Lula conseguirá eleger Dilma?
Eu acho que o Lula representou uma ruptura na história política do país. E é uma ruptura que para mim tem a ver com a própria personalidade dele, o que ele representa e como ele é. Então, pela primeira vez na história do Brasil não se elegeu um bacharel engravatado. Essa é uma mudança notável que dá, no fundo, até mesmo a revelia do Lula.
Eu acho que ele vai transferir esta característica dele, esta força que ele mostrou, repito, a revelia dele mesmo para a Dilma. Eu acho que a Dilma vai ganhar as eleições. Não creio que o governo Lula tenha sido ideal, ou seja, o Lula esteve aquém das minhas expectativas, embora eu goste muito dele, e tenha sido o primeiro jornalista brasileiro que viu nele o líder que ele pode ser, e é. Acho que a despeito das falhas do Governo Lula, de não ter sido aquele que eu gostaria que ele tivesse sido. Mas fez um governo melhor do que todos os precedentes. Com exceção, estranhamente – e digo isso porque alia há um conflito que se instala dentro de mim mesmo. Que é o governo de Getúlio Vargas.
03 -Lula é presidente em uma época que a mídia tem muita força. A propósito, como vai a televisão no Brasil?
Lula, além de tudo, tem este singular poder, de ter mostrado que mídia brasileira não alcança o povo. E acho que a mídia brasileira não se apercebe disso. Então, se você falar de imprensa, ou seja, de papel impresso, ela alcança uma fração muito pequena da nação. A televisão chega mais longe, mas chega por intermédio da novela, mas o Jornal Nacional não chega. E isso mostra porque Lula, a despeito que todo o esforço que a mídia faz para diminuí-lo, para criar problemas, para impedir que ele faça o seu sucessor. Apesar disso tudo, Lula continua impávido no topo das pesquisas.
04 - E quanto aos projetos sociais, tipo bolsa família e as cotas, o país vive tempos democráticos, já é um caminho andado?
A democracia brasileira não existe, isto é uma falácia. Mas virá, um belo dia virá. Um país onde apenas cinco por cento da população ganha de oitocentos reais para cima não pode haver democracia. O mais importante do ponto de vista social do governo Lula foi abertura do crédito, porque a bolsa família sempre tem um pouco de sabor de esmola.
05 - Esta mesma mídia, que não consegue alcançar o povo brasileiro, vive agora uma nova situação. Como você avalia a não obrigatoriedade do diploma de jornalismo para exercer a profissão, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal?
Não é que eu tenha uma boa opinião a respeito do Ministro Gilmar Mendes. Em relação a muitos outros, por exemplo, o novo presidente do Supremo o Peluso, que vem aí, esse é um jurista de grande qualidade, no meu modo de ver as coisas, ao contrário de Gilmar Mendes. A questão do diploma de jornalista é uma questão que transcende a atuação do Gilmar Mendes como presidente do Supremo. Eu sou contrário ao diploma, sempre disse muito claramente isso, não porque não fiz uma escola de jornalismo, estudei Direito. Jornalismo se aprende nas redações. Acredito que possa haver cursos de jornalismos muito bons, significativos e importantes para a profissão, mas num nível de pós-graduação. Não a credito numa escola de jornalismo em si.
06 - Falando em garotada, como é que vês esta permanente juvenilização nas redações? Não há mais trocas de experiências?
Houve jornalistas brasileiros de grande qualidade que souberam transmitir o seu saber aos mais jovens. Eu não vejo que isto esteja acontecendo hoje. Eu costumo fazer uma diferenciação entre a imprensa, que é o papel impresso, e mídia é eletrônica, o rádio. Eu acho que a mídia está atrelada a um pensamento superado, anacrônico. Está na mão de velhos senhores, ainda amarrados a uma concepção oligárquica da política brasileira. Você a mídia em geral alinhada numa posição só, única, diante daquilo que eles consideram um risco comum eles agem. E temos quatro, cinco sei empresas jornalísticas que estabelecem suas regras e estão perdendo o terreno. Estão se afundando gloriosamente para minha alegria.
07- Você continua pintando seus quadros. Como vê as artes plásticas hoje em dia?
Parei de pintar, faz quatorze anos que não pinto. Em São Paulo, um marchand está querendo montar uma mostra retrospectiva de coisas minhas pintadas ao longo da vida. Eu tenho o hábito de visitar museus quando viajo, considero a arte contemporânea de péssima qualidade. Não tenho o menor interesse em ver uma caixa de vidro cheia de água ou nada, ou um cadáver de um tubarão. No entanto, isso vale hoje 12 milhões de dólares. Isso não me interessa é uma besteira inominável, que faz parte desta imbecilização do mundo.
08 – O ano de 2010 também é de Copa do Mundo, como analisa o futebol atual, onde um garoto brasileiro de repente vira quase um milionário europeu. Como vai o futebol?
Primeiro eu torço muito para que muitos garotos tenham a desventura de participar desta aventura. Mas evidentemente que o futebol está na mão de uma máfia. O futebol também é um sintoma deste aviltamento dos princípios. É a entrega do esporte a quem lava dinheiro. Senhores como Joseph Blatter, da FIFA, e Ricardo Teixeira CFF, em outro país eles estariam presos. Como os chefes da máfia siciliana que estão todos nas prisões. Só imagina o que vai ser o Mundial no Brasil, com gente desta laia, vão fazer porcarias inomináveis.
09 – No ano do seu cinquentenário, Brasília fará uma grande festa, mas sem a presença de seu governador que está preso? É algum sintoma que algo esta mudando?
No fundo é o resultado de algo inevitável. Porque a própria Brasília é uma história nefanda. É uma história triste de um projeto muito ambicioso, que já nasceu mal, porque ali houve corrupção evidente, Brasília neste ponto de vista é muito emblemática, simbólica mesmo. Com esta vocação de corrupção que típica do poder, de resto, em qualquer lugar do mundo. Mas eu acho que as apostas do Juscelino Kubistchek foram todas erradas. Juscelino é um tardio epígino de Washington Luís, para quem governar significada construir estradas.
10 - E o Brasil, será que tem saída?
O Brasil tem saída inevitavelmente. Porque, não sei se é deus, há quem diga que é deus eu quero respeitar o pensamento de tantos que se trata de uma intervenção divina. Admitindo-se que se trata de deus, ele se esbaldou a favor do país. Quer dizer, os presentes que ele deu ao Brasil são incríveis. Toda hora ele dá um presente. O que torna o Brasil um país único e claramente protegido por deus. No entanto tem a pior elite do mundo. Porque, se tivéssemos tido gente que aproveitasse as dádivas do altíssimo, este seria o primeiro país do mundo. E não é por quê? Por causa de quem manda. E o povo, onde está a maioria? A maioria traz no lombo a marca do chicote da escravidão. Isso é grave. Vai levar tempo, mais é inevitável que o Brasil venha ser o paraíso. O Brasil é um país que ainda está em formação, que procura o seu destino e vai achá-lo.

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